Tempo no Mercado versus Timing do Mercado

Tempo no Mercado versus Timing do Mercado

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Os últimos dias mostraram alguma volatilidade nos mercados. O preço do petróleo atingiu o mínimo em seis anos. A China e a Grécia continuam a ocupar as manchetes dos jornais.

Será que estes assuntos realmente importam para um investidor a longo prazo?

Na realidade, não.

Se analisarmos as variações de preço do S&P 500 nos últimos 5 anos, parece uma linha recta. A média do mercado cresceu 84% durante esse período de tempo, um crescimento incrível após a crise financeira.

O mercado em geral encontra-se sobrevalorizado apesar de algumas das acções apresentarem um preço muito atractivo.

A correcção ainda não terminou. O mercado caiu 7% após esta onda de crescimento. Isto é um valor baixo e ainda existe espaço para correcções.

Se esta volatilidade o assusta, este será o momento para descobrir se o mercado de acções tem realmente um papel importante na sua alocação de activos.

O mercado de acções não é para todos.

Quando lê notícias como "O Mercado de Acções sofre o pior dia dos últimos 18 meses.", é importante manter uma perspectiva. Estamos a falar de um pouco de volatilidade num crescimento constante nos últimos 5 anos.

A curto prazo pode parecer assustador, mesmo para um investidor a longo prazo. Ninguém sabe como vão estar o preço das acções amanhã.

Mas será que o dom de prever o futuro o ajudaria? Vamos imaginar que tinha 20.000 euros para investir agora, mas quer ter a certeza que compra na melhor altura, após uma queda dos preços.

Acontece que a longo prazo o momento de entrar não faz grande diferença.

Olhando para o passado, 19 de Outubro de 1987 (Black Monday)

O dia em que a média do Dow Jones Industrial caiu 22,61%.

Vamos imaginar que tinha os 20.000 euros para investir em 1987. O seu amigo tinha uma bola de cristal e tinha-lhe dito que os mercados iam ficar loucos no dia 19 de Outubro.

Poderia ter optado por várias estratégias. Investir no S&P 500 através de um fundo indexado imediatamente após da queda, investir num grupo diverso de acções de crescimento de dividendos (o que estou a fazer neste momento). Ou poderia investir tudo numa única empresa.

Vamos ver o que acontecia nos próximos 28 anos após o investimento.

Vamos supor que tinha investido os 20.000 euros no fundo Vanguard 500 Index Fund (VFINX), que é um fundo indexado ao S&P500. Você esperava 1 dia após a queda para os mercados arrefecerem e no dia 20 de Outubro de 1987 aplicava os 20.000 euros. A 24 de Agosto de 2015 você teria hoje 293.128 euros à sua espera. O que equivale a um crescimento anual de 10.12%. Seria altura de dar ao seu amigo da bola de cristal um bom presente. Certo?

Nem por isso...

Vamos comparar com uma pessoa que não tinha a mesma sorte de ter um amigo com uma bola de cristal. E tinha feito o mesmo investimento de 20.000 euros no mesmo fundo mas no dia antes da Black Monday. Sexta-feira, 16 de Outubro de 1987. Imagine a sensação no estômago desta pessoa quando acordou segunda-feira e descobriu que o seu investimento deu um tombo de 22,61%.

É nesta altura em que só o tempo pode ajudar a salvar o dia. A 24 de Agosto de 2015, os 20.000 euros investidos no VFINX a 16 de Outubro de 2015 seriam actualmente 245.530 euros. Um retorno anual de 9.42%.

Uma diferença de quase 50.000 euros não deve ser subestimada. A segunda pessoa teve um óptimo retorno mesmo tendo entrado no pior momento. Com uma taxa de retorno anual próxima de 10%. Claro que não estamos a contabilizar os impostos e a inflação.

Hoje estamos a passar por uma situação semelhante mas longe do que se passou no dia 19 de Outubro de 1987 conhecido por Black Monday.

Investir todo o seu dinheiro no pior dia do ano é altamente improvável. Os investimentos devem ser feitos gradualmente ao longo do ano o que suaviza os resultados ao ponto que o timing de entrar nos mercados é quase insignificante.

O tempo no mercado é mais importante que o timing de entrada no mercado, porque você tem controlo do tempo no mercado e não tem controlo do timing do mercado. Períodos longos nos mercados fazem com que a flutuações a curto prazo desapareçam.

Em períodos longos, as acções de crescimento de dividendos adicionam uma segunda componente de retorno com base em dividendos.

Vejamos por exemplo a Johnson & Johnson (JNJ) usando as mesmas datas e o capital do exemplo anterior. A pessoa com a bola de cristal terminaria com um rendimento anual de 14.14% com um resultado de 795.615 euros. O investidor que cronometrou mal o mercado mas decidiu segurar o investimento a longo prazo terminou com uma rentabilidade anual de 13.73% e um valor resultado de 721.340 euros. Isto supondo que reinvestiu os dividendos.

Estas contas podem ser feitas com diversas acções. Claro que o resultado é melhor se tiver acesso a uma bola de cristal. Mas não muito melhor. E quanto mais tempo ficar menos importa.

O principal argumento aqui, que me levou a escrever este post, é que um investidor pode ter óptimos resultados a longo prazo independentemente dos momentos de grande volatilidade.

Compre com qualidade, ignore o ruído e reinvista a receita dos dividendos.

Mantenha o seu plano a longo prazo. Ignore as manchetes que informam que o céu está a cair. Não se deixe que o Mr. Market o intimide a fazer escolhas erradas.

Use a volatilidade do curto prazo como uma oportunidade a longo prazo, porque o longo prazo suaviza as flutuações a curto prazo.

No entanto, as flutuações de curto prazo podem proporcionar melhores ofertas em activos de alta qualidade. Pode parecer assustador no momento da queda, mas no futuro, você estará numa posição privilegiada ao se focar no tempo que ficará no mercado, em vez do timing de entrada mercado.

Qual a tua opinião? Achas que o tempo no mercado importa mais que o timing do mercado?

Obrigado pela leitura.