Os preços baixos devem ser uma justificação de compra?

Os preços baixos devem ser uma justificação de compra?

Costumo ler vários blogues de investimento e tenho notado que vários autores têm falado sobre a compra de acções que têm descido ao longo do tempo. Parece que olhar para uma lista de acções dos maiores perdedores do ano tem sido o critério para alguns investidores. Vou explorar esta ideia neste artigo e compartilhar a minha opinião.

Mas antes de começar quero relembrar que pessoalmente eu procuro comprar stocks de empresas a um preço atraente com margem para crescer em que a taxa de valorização do stock somada à taxa de crescimento do dividendo é superior à taxa de inflação gerando um rendimento decente no processo.

Parece uma ideia agradável olhar para uma lista de empresas dos maiores perdedores. Pode ser uma maneira de identificar acções que teoricamente poderiam estar em saldo.

Quando olhamos para uma empresa que parece estar barata porque o seu valor desceu recentemente é difícil termos a certeza que realmente bateu no fundo e não ficará ainda mais barata no futuro.

O problema é que olhando só para o preço em relação ao máximo do ano não é suficiente. O que importa é o preço em relação aos fundamentos.

Os investidores precisam de ter uma forma de avaliar sistematicamente os fundamentos usando informação relevante num modelo de forma a detectar se a acção está subavaliada ou sobrevalorizada podendo então formar uma decisão de compra. Uma mudança nos fundamentos pode justificar uma descida ou subida no preço da acção.

Por exemplo, em 1984 a Coca-Cola (KO) teve um EPS de $0,10. O preço da acção foi negociado entre $1,02 e $1,38 nesse ano. Hoje o preço da acção está perto de $40. Este aumento é justificado pelo valor do lucro por acção (EPS) que aumentou para mais de 2$ em 2014. Este crescimento do EPS permitiu à empresa continuar a aumentar os dividendos por 53 anos consecutivos.

Outro exemplo, no inicio de 2015 vários stocks de empresas petróleo e gás pareciam estar a um bom preço tendo em conta os rendimentos no ano fiscal de 2014. O problema é que muitos investidores ignoraram o facto da descida do preço do petróleo e consideram apenas o lucro do ano de 2014 (quando o preço do petróleo estava elevado), o que não foi suficiente para tomar uma decisão.

Os preços das acções da Chevron (CVN) e Exxon Mobil (XOM) desceram dos seus máximos e ainda não estão a um bom preço. Isto porque os fundamentos subjacentes se deterioram mais rápido do que o preço das acções. Portanto, no inicio de 2015 as acções estavam sobrevalorizadas apesar da descida.

Outro exemplo ainda mais recente, as acções da Wal-Mart (WMT) caíram de $90 no início de 2015 para menos de $59 hoje. As acções estavam sobrevalorizadas no início do ano e dada a decisão por parte do partido democrata em aumentar gradualmente o salário mínimo de $9 por hora para $12 por hora o EPS vai ter uma queda de 18% a 36% segundo as previsões da empresa, o que é uma grande descida para uma empresa de retalho. Actualmente as acções parecem baratas, no entanto as expectativas de crescimento dos fundamentos parecem ter mudado.

Se você acredita que o negócio não será capaz de aumentar o EPS de 3 a 4% ao ano na próxima década, então o crescimento do valor intrínseco da empresa não será suficiente para proporcionar um retorno satisfatório do seu investimento.

Caso você acredite que a empresa pode aumentar o EPS de 5 a 6% ao ano e ainda pagar um bom dividendo de 3% no processo, então a Wal-Mart poderá ser uma boa fonte de riqueza e renda passiva ao proprietário das acções.

Na minha opinião, eu não estou satisfeito com o facto da Wal-Mart não ser capaz de aumentar o EPS nos próximos 2/3 anos. Também não estou feliz com o baixo crescimento do dividendo nos últimos 2 anos. Como resultado a WMT não será uma das minhas escolhas para o Fundo Liberdade. O único resultado que eu poderia gerar é completamente especulativo (caso o preço por acção vá de $60 a $80). Não estou preocupado com o timing do mercado. Prefiro concentrar-me nos fundamentos a longo prazo.

Tomar decisões baseadas no preço, como o minimo das 52 semanas ou minimo do ano pode ser útil como primeiro passo no processo de descobrir se a empresa está subavaliada.

Digo primeiro passo porque o investidor precisa ter em consideração as mudanças no poder subjacente do lucro. Se a fonte de lucro é prejudicada é bem possível que o declínio no preço seja garantido como também possa continuar a descer ao longo do tempo.

Como diz o velho ditado, não tente agarrar a faca quando está em queda. Isto significa que quando as acções de uma empresa estão em queda numa descida íngreme, podem continuar a descer com o tempo. Este é o momento em que comprar pequenas quantidades regularmente pode ajudar a suavizar o golpe. Outra forma é esperar que o preço pare de cair antes de iniciar a compra.

Eu não olho para os mínimos das 52 semanas ou para os valores mínimos do ano. Descobri que ter uma lista de empresas que se encaixam em determinados critérios predeterminados que vou rastreando regularmente é mais eficaz para descobrir boas oportunidades.

Para resumir, um preço baixo ou declínio no preço não é suficiente para que um negócio se torne numa oportunidade. Em vez disso é importante analisar se a empresa tem capacidade de gerar lucro.

Se a capacidade de gerar lucro não for prejudicada e o stock se encontrar subvalorizado podemos estar perante uma oportunidade. Se a capacidade de gerar lucro for prejudicada esse stock deverá ser descartado por investidores de crescimento de dividendos.

Achas que os preços baixos devem ser uma justificação de compra? Não concordas com a minha opinião?

Obrigado pela leitura